Sexta à noite. Eu e o Jaimito fomos espalhar charme. Começámos no café do Alfredo, um chazinho de cevada num número respeitável de garrafas de 20cl. Ajuda a digestão e acompanha bem mais uma vitória do Glorioso, ao vivo e a cores na tv. A seguir, fomos fazer a ronda nocturna, ver como é que as beibys se estavam a portar. No segundo bar onde entrámos, o radar detectou duas loiras, altas e todas freaks, com sorrisos marotos para distribuir. Fomos dar-lhes um hello e perguntar o que estavam a beber. Um conselho cá do Zé: as nórdicas são sempre o melhor alvo. Não falha. São pragmáticas e têm incutida a cena da eficiência que caracteriza aquela gente. Sabem o que querem e o que fazer para o conseguir. Não há cá nhó nhó nhó, nhó nhó nhó. Estas eram dinamarquesas. Despachei a de rabo grande para o Jaimito e encostei-me à de mamas pequenas. Comecei a desfiar o protocolo, tudo em inglês: de onde és, que vieste cá fazer, gostas de Portugal, sim somos bué hospitaleiros, onde já foste, quantos dias ficas aqui, tens mesmo de ir ali, lai lai lai, lai lai lai. Estão a ver a cena, certo? Depois passamos para cenas mais pessoais, gosto desta música, já vi um concerto deles, há uns anos isto e aquilo, tenho uma amiga que também é de não sei onde, lai lai lai, lai lai lai. Eu e o Jaimito dominamos o protocolo.
Pelo canto do olho ia-me apercebendo que provavelmente me precipitara na escolha. A conversa do Jaimito ia já bem mais adiantada. A que me calhou gostava de ler. Fartou-se de me tentar descrever o prazer que os livros lhe proporcionavam. E aqui o Zé, sim sim, também adoro livros minha, very nice, bebes outra? Estava apaixonada pelo Fernando Pessoa. Eu disse-lhe que o gajo já tinha morrido e ela riu-se, que eu era very funny. Se eu gostava do Pessoa? Adorava minha. Ela estava agora a descobrir Saramago. Sim sim beiby, também gosto, pois claro, mas não te apaixones muito, que esse também já foi. Very funny. A seguir, pergunta-me por autores recentes. Quais é que eu lhe recomendava. Até suei. O Jaimito já não estava em condições de me poder ajudar. Pensei rápido. Diz um nome Zé Tó, um nome que soe a escritor. Comecei a rever mentalmente o onze do Benfica: Maxi Pereira, Luisão, Garay, Emerson, Javi Garcia, já começava a desesperar, Witsel, Gaitán, Nolito, Aimar, Saviola, até que por fim… surgiu o nome do meu escritor português favorito da actualidade: Óscar Cardozo. Com Z, tas a ver minha, à artista. Muito bom. Recomendo vivamente. E qual o estilo dele? Essa é fácil, o gajo é directo ao assunto, não tem muito rendilhado nem fantasia. É curto e grosso, mas muito eficaz. Ocorreu-me uma tirada de génio: olha beiby, se fosse um futebolista, seria um ponta-de-lança: está lá sempre no sítio para as meter lá dentro, mas não lhe peças muitos rodriguinhos que ele não é disso. Another beer? Vai ter de ser, para ver se paras com essa cena da literatura. Nunca tinha visto uma esponja de olhos azuis. Nessa noite constatei que a cerveja pode fazer crescer a barriga, mas de certezinha absoluta que não faz crescer as mamas.
A coisa correu como tinha de correr. Acabou como se impunha. Não foi um jogo por aí além, estão a topar? A loira tinha demasiada poesia nas veias. Ao fim da primeira parte já estava a apontar o meu número. Ainda pensei que por aquele andar acabávamos a trocar de camisola no fim do jogo. Foi demasiado amor, tudo muito bonito, ela conduzia sempre dentro dos limites de velocidade. Valeu por ser mais uma internacionalização pela equipa das quinas. I’ll call you, promise. Aposto que ligas, especialmente se pesquisares esse meu escritor favorito. Love & piss!