terça-feira, 22 de maio de 2012

Lavaste-a, estragaste-a...


Chegou por fim o momento de obedecer ao teu
Olhar lânguido.
Sons enfeitiçados à luz
Ideal.
Um vinho que provámos
Em nossas bocas
Unidas,
Com o ímpeto de quentes noites de verão
A correr-nos nas veias.
Deslizou minha língua em
Contramão,
Vagueando por desertos de pele
Perfumada.
Jardim do Éden descoberto onde
Se sabia ser sua morada.
É entrar, é entrar
Por aqui são hospitaleiras as gentes.
Convite de recusa interdita. E,
De súbito
A vontade a esmorecer:
Lavaste-a, estragaste-a

segunda-feira, 14 de maio de 2012

O Ruca acabou de ser pai


            O Ruca, amigalhaço desde os tempos do liceu, acabou de ser pai. Já não o via há séculos. Urso casado hiberna meses a fio. Ainda assim, recordo com saudades as velhas noites de copos e beibys. Eu e o banco de trás do carro do Ruca chegámos a ser grandes amigos. Por essas e por outras, fui visitar o recente papá. Um urso de peluche para o bebé (como era mesmo o nome do minorca?), umas flores para a mãe e um pack de loiras para entornar com o pai.
            Cheguei lá, o puto estava a curtir nas mamas da mãe, que por sua vez, transbordava felicidade por aquelas banhas todas. Tantas as vezes que tive vontade de fazer um filho àquela jovem donzela e agora, que a via de mama de fora, nem conseguia sequer imaginar a cena. Coisas da vida.
            Havia mais visitas. Tias e primas sopeiras de rabo grande e dedos cheios de anéis. Ao fim de cinco minutos, cutchi cutchi, eu já não aguentava a conversa. Sai a este, sai àquela, cutchi cutchi, é parecido com esta, mas o nariz não sei quê e a boquinha não sei quantos, cutchi cutchi. E come bem? E à noite, como é à noite, deixa-vos dormir? E o cocó? Cutchi cutchi!
            A custo lá consegui desviar o Ruca para a cozinha. Abrimos duas minis geladinhas. Um brinde ao puto e a primeira coisa que lhe disse foi “estás lixado”, mas com f. Riu-se, o inconsciente.
            Perguntei-lhe há quanto tempo não pinava. Nem vou divulgar a resposta. Só vos digo que é de se ter pena. E acrescento que desta vez já não se riu. Ainda para mais a mulher tem a pombinha em obras. Coisa para um mês, mês e meio. Pelo menos. Já se sabe como é neste país, ninguém cumpre os prazos. Para desanuviar perguntei-lhe que tal era a maternidade. “Muito boa, correu tudo bem”. Nem percebeu que eu queria era saber das enfermeiras. “Zé Tó, só tu meu. Foste o único tipo que me perguntou se as enfermeiras eram boas”.
            Bebemos outra mini. Ainda há homens sérios. Casado há quatro anos. Sempre fiel, a grande besta.
             - Mas tu achas que vais mesmo passar o resto dos teus dias a ser fiel à tua beiby, men? E queres melhor altura para pular a cerca? Por acaso é pecado? (ups…). Pode até ser, e daqueles mortais e tudo, mas moralmente devia ser permitido. Pelo menos nestas circunstâncias. Ainda acrescentei um monte de blá blá blá, mas depressa vi que estava a perder o meu tempo.
            - Ruca, tens por ai uns amendoins? 
            Bebemos mais uma mini. O minorca desatou a chorar, voltámos ao quarto.
             - Então, de que estiveram a falar?
            - Das vacinas do menino. Estive a dizer ao teu marido para não se esquecer de dar nenhuma.
            Saiu-me. O Ruca ficou a olhar para mim de olhos muito abertos. Vim embora mal pude. Acompanhou-me até à porta.
             - Tenho a impressão que tu foste o único que me veio ver a mim e não à minha mulher e ao puto. Um dia destes vamos ver uma futebolada ao café e beber mais umas quantas.
             - É só dizeres, men.
            Dei-lhe um grande abraço. Tenho a certeza absoluta que só o voltarei a ver no próximo filho. Ou quando se divorciar. O que quer que aconteça primeiro. Vai uma aposta?


domingo, 6 de maio de 2012

Feliz dia da Mãe


Feliz dia da mãe, beibys! Filhos não é bem a minha praia, mas era menino para vos relembrar como os fizeram. Não sejam timidas, liguem, mas só quando vos passar a lamechice, ok?

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ode aos coisos




Oh, c...oisos acabados em ões
Eternos pendentes do meu ser
Sem vós, não mais haveria tesões
Findava-se a vontade e o querer

Tão frágeis e desprotegidos
A uma triste sorte abandonados
Tantas as vezes que, esquecidos
...
Passam pelos dias, cheios e desconsolados

Oh, ternos coisos do meu coração
Do milagre da vida sois guardiões
Quão injusto é, no fulgor da acção
Deixar-vos de fora, bravos foliões