Um destes dias fui comprar trapos. Andava a precisar de renovar o meu guarda-roupa. Sabem como é, um corpinho assim de suspirar por mais, convém andar sempre bem embrulhado, para a qualquer momento poder ser oferecido de presente a uma beiby que mereça.
Vou-vos descrever o processo, passo a passo, a ver se aprendem alguma coisinha aqui com o Zé Tó.
Em primeiro lugar, dou um giro pelas 2 ou 3 lojas do costume. Talvez seja um conceito de difícil compreensão para a comum das beibys, mas gajo que é gajo entra no máximo em 2 ou 3 lojas, que são sempre as mesmas. Dou uma olhada nos trapos e outra nas garinas que lá trabalham. Fica o trabalho de casa feito.
A seguir, vem o passo essencial: correr a lista telefónica do telelé e escolher a beiby certa. Tem necessariamente de obedecer a certos requisitos. O principal é nunca ter dado umas voltas aqui com o mocinho. O segundo requisito é demonstrar uma inequívoca vontade para o fazer. Geralmente a minha escolha recai sobre uma indígena que conheci há pouco tempo, e a quem já espalhei uma boa dose de charme, de maneira a que sorria quando vir o meu número no visor. É uma táctica um pouco à imagem daqueles cãezinhos que mijam nas cenas para marcar território. Nada como as deixar a pensar em nós.
Em bom rigor, o meu intrincado processo de comprar roupa começa muitas vezes aqui, quando conheço uma beiby que se rende aos naturais encantos cá do menino: antes do óbvio passo seguinte, penso sempre se preciso de comprar roupa. O óbvio passo seguinte, claro estar, só pode ser ligar-lhe para tomar um café.
Quando a tenho à minha frente, sentadinha toda contente, a cheirar bem e nervoso miudinho por dentro, desenrolo o meu melhor lai lai lai, coisa e tal, lai lai lai. Esbanjo charme à doida, como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Dou a entender que tenho de bazar da praia, e nessa altura afinfo-lhe com a frase fatal: “tenho que ir comprar uns trapitos, mas detesto ir sozinho, não tenho paciência e gosto sempre de ter uma opinião”. Nunca falha.
O próximo passo é garantido. Lá estamos nós, a cumprir o objectivo, dentro de uma loja a revirar os trapos e a sorrir um ao outro, com os dentes todos. Que melhor forma de comprar roupa pode um men querer, do que com uma beiby apaixonada de fresco por nós? Vai ser sincera, vai até querer dar a sua opinião, vai ter uma paciência infinita e, o mais importante de tudo, vai ter toda a atenção aos pormenores: “esse casaco fica-te largo nos ombros, as calças são giras mas apertam muito aí nos coisos, essa camisa não sei o quê, esse padrão não sei quantos, isso vai bem com aquilo, também podes usar com aqueloutro”. Como se não bastasse, ainda te diz quando algum trapo é muito caro e sabe sempre onde encontras um quase igual bem mais em conta.
Um par de horas depois, saio da última loja, carregadinho de sacos, aviado de trapos por uns bons tempos, tendo ainda poupado uns trocos valentes. Ao meu lado, uma beiby com um sorriso feliz. Só me resta o último ponto: agradecer-lhe imenso e dizer-lhe que o mínimo que posso fazer é convidá-la para jantar fora. Nessas alturas, tenho sempre uma ideia repentina: “já sei, e se fossemos jantar a minha casa? Olha que eu sou um cozinheiro de mão cheia (mais sobre isto noutra ocasião, prometo)!”. O resto, mais lai lai lai menos lai lai lai, só acaba na sobremesa.
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