" Nas semanas seguintes ao tricampeonato as coisas precipitaram-se um bocado. Dois acontecimentos dignos de nota: comecei a trabalhar no hipermercado da Filó e o Vidrinhos começou a namorar com a Rute. Ou a foder, pelo menos. Nem sei por onde comece. Moeda ao ar? Cara para a Filó, coroa para os pombinhos.
Coroa.
(Juro que atirei mesmo a porra da moeda ao ar!) ...
Bom, os pombinhos. Não sei que raio aconteceu. A verdade é que inventei uma Rute ao Vidrinhos e a ela pintei um Vidrinhos que criei na minha imaginação. Uma bela noite, apresentei-os num bar com música demasiado alta, estávamos com mais pessoas e fui à minha vidinha, deixei-os a trocar sorrisinhos idiotas e frases feitas. Não comi nenhum bacalhau, mas lembro-me de levar um par de estalos dos bons. Nem sempre se ganha, paciência. Uma das minhas regras de ouro é não misturar álcool com bajaina, pelo menos não em demasia. O chamado love and piss. Naquela noite estava escrito nas estrelas que não ia sobrar nenhuma aqui para o menino, pelo que decidi equilibrar a coisa com uns copos a mais. Estava tão podre de bêbado que quando vi aqueles dois num canto do bar na marmelada, desatei a rir às gargalhadas.
- Zé Tó, és uma puta duma velha alcoviteira – gritei para mim mesmo – Se te esforçasses o suficiente, podias trazer a paz ao mundo.
Meia hora depois, o Vidrinhos, todo ele sorrisos, depositou-me uma nota de dez euros na mão, dizendo:
- É para o táxi, meu velho, prometo que vais ser o padrinho de casamento.
- Menos de três é para meninos, Vidrinhos, não me deixes ficar mal.
Olhei para a nota e decidi que ficaríamos ambos mais felizes se a bebesse. Foi o que fiz, assim que consegui cravar boleia a alguém que tinha vindo com alguém e ia para os meus lados. Várias imperiais depois, dei comigo à porta do meu prédio. Estava perdido de bêbado, mas ainda lúcido o suficiente para não tocar à campainha da minha vizinha milf às quatro da manhã. Dois minutos depois, já eu dormia que nem um leão.
Os pombinhos foderam na noite em que se conheceram. Se isso não é amor, não sei o que o será. Tive direito a ouvir o relato, ao melhor estilo jogo de futebol, embora em diferido: tanto a Rute como o Vidrinhos me ligaram. Eu tivera o cuidado de dizer à Rute para, acontecesse o que acontecesse, jamais dizer ao Vidrinhos que nós dois já tínhamos pinado para o mundial. Seria o nosso pequeno segredo para o resto das nossas vidas, amén. Ele foi o primeiro a ligar, logo no dia seguinte:
- Zé Tó, a gaja é louca, meu. Bebe por três e fode por um batalhão de bombeiros. Sou bem capaz de me apaixonar, se não vires nenhum inconveniente.
Pouco tempo depois, parecia que tinham combinado, ligou ela:
- Garanhão, o moço safa-se. Vou pô-lo a treinar à experiência. Vou tentar não lhe partir o coração. O mesmo para o pénis."
Sem comentários:
Enviar um comentário