sábado, 28 de julho de 2018

Clítoris: lambidela 12

"Despedi-me nesse mesmo dia. Fiz as contas com o merdoso do meu patrão, poupei-lhe umas massas a troco de me libertar imediatamente. Telefonei à Filó a dizer que podia começar dali a quinze dias e passei duas semanas sem fazer a ponta de um corno que não fosse comer bem, beber melhor e pinar o mais que conseguisse, o que, como é óbvio, não podia incluir apenas a Xana. Quando lhe dei a novidade do meu novo emprego, reagiu como se tivesse sido uma gran...de conquista minha.
- Parabéns Zé Tó, eu sabia que ias conseguir. A Filó ficou muito bem impressionada contigo.
Fomos jantar fora. Fez questão de pagar ela e eu há muito que aprendi que se deve fazer as vontades a uma mulher. Não lhe disse, por não ter visto necessidade em o fazer, que tinha duas semanas de boa vida pela frente.
Logo no dia seguinte a ter deixado de vez aquele armazém tenebroso de má morte, com um cheque catita no bolso para depositar, decidi tomar um tardio pequeno-almoço na Doçuras, a pastelaria em frente ao meu prédio. Sentei-me na esplanada, o tempo estava convidativo. Um minuto depois veio à minha mesa a nova miúda que lá trabalhava e cuja existência já se me tinha varrido da memória. Sandra, Sónia, Sílvia? A fugir para o baixinho, um pouco roliça, vulgar cabelo castanho, comprido e ondulado, mãos cheias de anéis, um pássaro de asas abertas tatuado no pulso direito e um enjoativo ar de bem com a vida. Uma sopeira, a chamada queca fácil, para quem estiver disposto a descer àquele nível de inteligência emocional. Mas tinha um aparelho nos dentes, que mudava por completo aquele quadro dantesco. Nunca tinha pinado com uma tipa com aparelho e aquele sorriso que ela esbanjava a torto e a direito puxava-me pela líbido.
- Bom dia!
Decidi ali na hora que a queria, assim que me sorriu aquele bom dia. Aquela boquinha com aqueles dois dentinhos de coelho e aquele aparelho do demónio a toda a largura tinha de ser apresentada ao Onofre.
- Bom dia para a coisa mais doce da Doçuras – arrisquei, entrando logo a matar – uma torrada, uma meia de leite e outro sorriso bonito desses, por favor.
- Ai tão simpático que ele está hoje!
- É de estar de férias. E de não vir cá há alguns dias e as saudades apertarem.
Soltou um risinho idiota e voltou para dentro da pastelaria. Segundos depois alguém a chamou pelo nome. Susana. Estava desfeito o mistério.
Regressou com o meu pedido e enquanto o deixava na mesa, tomou ela a iniciativa:
- Ai de férias, quem me dera…
Senti que estava no papo. Olhei de relance para aqueles dedos pequenos e gordos, não cheguei a perceber se algum daqueles anéis indiciava namorado, mas desde quando isso me importava?
- Duas semaninhas – atirei – Hei-de vir cá todos os dias para te ver, Susaninha do meu coração, e não descanso enquanto não formos beber um copo.
- Isso é um convite? Cuidado, que ainda aceito."


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