"Parei numa bomba e meti gasolina até àquele ponto em que parece que atestei o depósito. Trinta euros com o galheiro. Para uma única queca, a Xana tinha saído cara, mas encarei aquilo como um investimento, ia devolver o carro são e salvo ao Vidrinhos e, dali em diante, o gajo não teria como recusar emprestar-mo, sempre que estivesse em causa fazer alguém feliz. Fiquei a olhar para a nota de dez euros que me queimava nas mãos. Decidi transformá-la numa... garrafa de whisky, para oferecer ao Vidrinhos. Só me passou tal coisa pela cabeça porque sabia que ele não bebe whisky. Uma ideia de génio. Planeei ficar em casa do gajo a embebedar-me e depois cravar-lhe uma boleia para casa. Talvez víssemos um filme, um jogo de futebol ou ficássemos simplesmente a falar de ratas saltitonas.
Apitei ao estacionar debaixo do prédio. Fiz-lhe sinal para que descesse quando enfiou aquela cabecinha de rola pela janela. Queria que ele inspecionasse o bólide, para o deixar sossegado. Dancei as chaves do carro na minha mão, quando chegou a dois metros de mim.
- Novinho em folha, sem vestígios de sémen nem pintelhos marotos e depósito atestado até deitar fora.
- És um bom cristão, Zé Tó.
- E tu também serás, se tiveres coca-cola no frigorífico para misturar com esta beleza.
Passei-lhe a garrafa para as mãos e subimos. O Vidrinhos estava numa de play-station, o que tanto me dava, desde que o whisky me fosse aquecendo o estômago. Preparei duas bebidas, a dele só com um cheirinho e copo até meio de cola, que não se deve desperdiçar com quem bebe a fazer má cara. Ficámos ali, a marcar golos um ao outro com gritos de “chupa, caralho”. A velha e salutar camaradagem masculina. No fim do segundo jogo, fiz menção de reabastecer, mas o totó do Vidrinhos cortou-se:
- És doido varrido, pá, amanhã é dia de trabalho.
- E quê, não podes ir ressacado?"
Sem comentários:
Enviar um comentário