Tudo começou com o barulho das luzes. E
uns saudáveis shots nas veias, a transbordar vitamina A(lcool). Ela dançava na
pista e abanava aquele corpinho enxuto de uma maneira bem pecaminosa. Baixinha,
a típica “bajaina de bolso”, daquelas que se pega ao colo com facilidade, tinha
um rabo empinado e um olhar desafiador, como que a dizer “vê lá se te atreves”.
Cabelos lisos muito pretos, até meio da cintura. Pus-me a imaginá-los a cair-me
sobre o peito e fui-me chegando ao bicho, assim como quem quer a coisa, mas com
modos de cavalheiro.
Percebi que a
costa estava livre e não me armei em esquisito. Iniciei as manobras de
atracagem e dei início ao lai lai lai
que se impõe. A mosca caiu na sopa, apareceu o primeiro beijo, cheio de cerimónias,
até que cinco minutos depois, estávamos mortos de paixão com T grande, esparramados
num sofá a um canto sossegado.
Decidimos que
estaríamos bem mais confortáveis em casa dela, fomos até à caixa, pagámos,
saímos cá para fora, chamámos um táxi e, juro pela minha rica mãezinha, foi só
quando estava com a peida alapada no banco traseiro de um mercedes a precisar
de reforma que reparei no óbvio: tinha engatado uma estrábica! Com uma
agravante, a gaja era estrábica dos dois olhos. Passou-me a bebedeira num ápice
e estive quase a gritar por socorro, não fosse o cheiro bom que se lhe
desprendia das carnes, que não eram nada de se deitar fora.
Aceitei aquilo com
desportivismo e fairplay. O erro tinha sido meu, não conferi devidamente a
mercadoria e agora era já algo tarde para reclamar defeitos de fabrico. Não
ajudou nada o ataque de romantismo que lhe deu, agarrou-se-me ao pescoço e
insistia em beijar-me ao melhor estilo diva de cinema. Fechei os olhos, claro.
Aquilo era demais, eu não conseguia perceber se ela olhava para mim ou para a
lua.
Entrámos no apartamento, deu para perceber que
ela mantinha a bebedeira e a tesão em valores muito recomendáveis. Só me deu tempo
de dar uma mijinha apressada e passar água fria nas trombas, uma forma de
arranjar coragem para pegar aquele touro pelos cornos.
Em menos de um ai,
estávamos a surfar em cima da cama dela, bem na crista da onda. Decidi que tudo
estaria bem se não a olhasse na cara. A seguir a um beijo molhado (de olhos
fechados), desci por ali abaixo, com calma, parando em todas as estações a
apeadeiros, até ficar com a língua presa numa passarinha totalmente depenada.
Andei por ali a recriar-me um bocado, até que umas mãos me puxaram com
urgência. Dei de frente com aqueles olhos que apontavam à ursa polar e ao
soalho flutuante ao mesmo tempo, tive de afogar o Onofre entre as pernas dela e
dar-lhe corda. Fiz por ser o profissional da foda de que muito me orgulho, mas
aqueles olhos de êxtase estrábico estavam quase a conseguir dar-me cabo da tesão.
Aquela menina, graças aos deuses, não demorou muito a contorcer-se num orgasmo
catita. O problema foi que aquilo tornou-a melosa, abraçou-me e deu a entender
que queria ficar ali aos beijinhos fofinhos, a olhar-me muito nos olhos.
Fiz-lhe ver que
tinha um problemazito por resolver e fiz questão de o resolver da maneira que
me estava a apetecer. Virei-a ao contrário, ao melhor estilo homem do talho,
estacionei-lhe o Onofre naquela crica húmida e deixei-o ficar por ali, tal e
qual uma criança a divertir-se, aos saltos numa poça de água. Estava-se bem
ali, aquele rabinho empinado sorria para mim e tinha a grande vantagem de não
ser estrábico. Por via das dúvidas, enfiei um bocado de um dedo maroto no seu
olho visgarolho, o que me pareceu ter vindo mesmo a calhar para aquela tola.
Esperei por ela e, bem sincronizados, explodimos ao mesmo tempo. Foi uma
fodinha muito aceitável, bem acima da média, se quiser ser sincero, mas eu
sabia que agora viria a parte pior: a das meiguices e beijinhos. Pensei rápido. Estava em casa dela,
liso como de costume e bem longe do meu barraco. Nem pensar em dormir ali
agarrado àquela estrábica do demónio, à espera do primeiro metro ou, se tivesse
azar e adormecesse, acordar de manhã e encarar com aqueles olhos esgroviados.
Aguentei-me à bronca. Trocámos uns beijinhos e uns cutchi cutchi da treta e dei-lhe a entender que queria dormir. Ela
quis ficar em conchinha, o que lhe agradeci mentalmente, foi uma boa maneira de
evitar aqueles olhos avariados, ao mesmo tempo que me despedia daquele rabinho
tão simpático. Assim que ela adormeceu, saí da cama de fininho, vesti-me sem
fazer barulho, procurei nos bolsos das calças dela uma nota de dez que me
pagasse um táxi até casa e saí dali às pressas. Cheguei à rua e respirei fundo,
aliviado, em mais do que um sentido.