"Sentou-se na cama, costas bem apoiadas na almofada, que deixou na vertical e, sem qualquer preâmbulo anunciou-me a sua ideia:
- Que me dizes a duas semanas de férias, daqui a uns dias, na costa alentejana?
A ideia não podia ser mais simples: ela passava-me uma baixa médica. Dores de costas ou algo do género. Eu não teria de me preocupar com nada, as despesas eram todas com ela. A verdade é que ela tinha as férias marcadas, só ainda não tinha um garanhão como eu. Disse-lhe que tinha de pensar no assunto, mas eu sabia que na minha cabeça já tinha dito sim, ainda ela não tinha acabado de me explicar a ideia dela. E senti que a Paula também soube que eu diria sim. Que outra coisa podia um gajo com vinte e poucos anos dizer a um convite daqueles?
Vestimo-nos, ela levou-me a casa, pelo caminho fomos falando de trivialidades. Parou o carro à porta do prédio dos meus pais. Dei-lhe um último beijo e, ao sair do carro atirei-lhe:
- Acho que vou ter de comprar uns calções de banho.
Três dias depois, entreguei uma baixa médica em mãos, com cara de quem está fartinho de sofrer, saí pela porta fora e entrei no jipe que me aguardava no estacionamento, direitinho para Odeceixe, na costa alentejana.
Ainda não tínhamos passado Lisboa e aquilo já me soava a má ideia. Aquela bajaina podia, com alguma boa vontade, passar por minha mãe. Eu ia mesmo andar duas semanas a foder com ela e a apanhar sol nos intervalos? Pensei que a alternativa seria estar fechado naquela loja de merda, a aturar todo o tipo de cretinices. Decidi não me preocupar mais. O que tivesse de ser, seria.
Mal chegámos, percebi que tudo iria correr bem. Ela reservara uma pequena vivenda germinada. Tinha um quarto com cama de casal, uma sala enorme com kitchenette e uma casa de banho. O melhor de tudo era um espaçoso terraço com vista sobre a praia. Aquilo era um luxo para mim, mas percebi que era o padrão a que ela estava habituada. A Paula era uma mulher discreta, em público agia com naturalidade, nada de mãos dadas, beijinhos ou falinhas dengosas. Intuí que queria passar a imagem de mãe divorciada, a passar uns dias de férias com o filho. Era o início de Junho, havia poucos turistas e aqueles com quem nos cruzávamos, pareciam nem reparar em nós. Aquilo era o paraíso na terra por duas semanas e eu decidi que teria de o aproveitar ao máximo.
Fodíamos como se estivéssemos em lua-de-mel. Ela tinha o tenebroso hábito de acordar cedíssimo. Enroscava-se em mim, deslizava a sua mãozinha sábia por zonas de guerra e nem cinco minutos depois estávamos a dar uma rapidinha. Depois, levantava-se feliz da vida, tomava um duche, vestia-se e saía para dar uma caminhada pela praia e tomar o pequeno-almoço algures. Tudo isto antes das nove da manhã. Eu virava-me para o outro lado e caía ferrado no sono. Como não sou otário, deixava o despertador para as onze, saltava da cama e às onze e dez já estava a fazer-lhe companhia, geralmente numa esplanada onde ela estava infalivelmente a ler o jornal do dia ou um dos calhamaços literários que levara com ela. Uma mulher incrível, aquela Paula."
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