"Olhava a Beatriz nos olhos e invocava Imma, que me saiu em traços irreais, como se feita de fumo. Ela contava uma história qualquer que acontecera na empresa onde ela trabalhava (demorei um bocado a perceber que “a empresa onde eu trabalho” era um eufemismo para “a empresa de que sou dona”), eu quase não a ouvia, mas ia jurar que aqueles olhos brilhavam de encontro aos meus. Demos por nós e já o Vidrinhos e a Carolina estavam na marmelada, mesmo ali... ao nosso lado. Saímos daquele bar, todos os quatro, caminhámos na direcção dos carros, eu atirei um “então e agora, onde vamos?” para o ar, ainda sem perceber que o Vidrinhos já decidira tudo. Ele ia levar a Carolina a casa, no carro dele. E a Beatriz, que trouxera a Carolina, se não se importasse, levava-me a mim.
Dei por mim enfiado num Porsche Cayenne, bêbado e com uma tesão confiante, de quem sabe que está no papo. Ela virou aqueles olhos ainda a brilhar para mim, sorriu antes de perguntar:
- Para onde, Zé Tó?
Cheguei-me a ela e dei-lhe o primeiro beijo, suave. Gostei daquele beijo. Repeti-o uma e outra vez, antes de responder:
- Para onde me quiseres levar.
Acontecia que a Beatriz sem Dra. era uma mulher casada e ir para casa dela estava fora de questão. Presumi que o meu barraco não reunia os requisitos mínimos, pelo que fomos parar a um motel junto ao jardim botânico onde passámos duas horas bem agradáveis, num enorme quarto temático, decorado como se fosse uma ilha tropical, com pétalas de rosas na cama e uma garrafa de champanhe barato que fiz questão de abrir e dar uso, em mais do que uma forma possível. Gostei daquelas mamas de silicone, além disso, a tatuagem de umas pequenas andorinhas no músculo do braço direito conferia-lhe um toque de femme fatale e, pormenor não displicente, dizia as coisas certas na hora certa. A fodinha, sem ser maravilhosa foi bastante satisfatória. É sempre bom quando as expectativas são baixas e acabam a ser superadas. Ambos soubemos que repetiríamos a dose, sem necessidade de o traduzir em palavras.
Conduzindo-me a casa, falou-me do seu casamento de merda e eu tive a oportunidade por que tanto ansiava, falei-lhe no meu emprego atrofiante e sem qualquer perspectiva do que quer que fosse. Trocámos um lânguido e longo beijo, mal estacionou à porta do meu prédio.
- Boa noite, Dra. Beatriz. Tenha bons sonhos.
- Boa noite, professor doutor Zé Tó. Talvez o consiga ajudar a mudar de vida. Ligo-lhe um destes dias, pode ser?"
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