quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Clítoris: lambidela 48

Clítoris. P(B)osta nr 48:
"Alguns dias depois tinha passado no exame de código. Decidi que aquilo merecia ramboia. Num gesto romântico, à século XIX, meti um bilhetinho por baixo da porta à patrocinadora oficial da minha carta de condução: “Passei no código, princesa, para a semana começo a atropelar velhinhas. Adoro-te”. Se o mundo fosse justo, uma coisa destas deveria dar direito a uns mimos, mas não tive ilusões quanto a isso. Desci à Doçuras, para aconchegar o estômago em pastéis cheios de cremes do demónio e fez-se-me luz: havia algum tempo que não via a sopeira da Susana por ali. Perguntei por ela à gorda que me atendeu.
- A sua amiguinha já não trabalha cá – começou a gorda, cheia de malícia na voz - O namoradinho arranjou-lhe um emprego como secretária numa fábrica. Ouvi dizer que estão para casar.
Que raio de mundo este. Mas quem é o gajo com dois dedos de testa que se apaixona por uma básica daquelas e, desgraça das desgraças, decide casar com ela? Há mesmo gente para tudo, vade retro satanás.
Fiz por esquecer a Susana e acabei a constatar que havia já alguns meses que não tinha um bajaina à disposição onde estacionar o Onofre por umas horas. Ninguém a quem pudesse ligar com voz melosa e que estivesse na disposição de ser feliz com pouca ou nenhuma roupa. Tinha de rever aquilo, arranjar uma espécie de namorada o quanto antes. Entretanto, recorri ao plano de emergência: liguei à Fátima.
- Ainda há uns minutos pensei em ti, rei da tesão!
- Tudo saudades, princesa?
- Estou a pensar rogar-te uma praga. Arranjaste-me um chato do caraças. O teu amigo Adérito não me larga, está perdidamente apaixonado.
- Que tens tu contra o amor, princesa?
- Quando vem com uma boa gorjeta, absolutamente nada, meu rei.
Contei-lhe as minhas novidades. Ela não fazia a mínima ideia que eu conduzia há anos sem carta, durante um longo minuto não conseguiu parar de rir às gargalhadas, depois lá acalmou e disse:
- Passa por cá, temos de comemorar. Até te vou fazer uma surpresa, sempre tive um fraquinho por gajos chanfrados dos cornos.
Cheguei a casa dela alcoolicamente em ponto de caramelo e deu para perceber, mal me abriu a porta, que a Fátima também já estava bem acesa. Fomos direitos ao sofá da sala, ela preparou dois gins e eu fiz um charro king size. Às primeiras passas, pegou-me nas mãos e anunciou:
- Fecha os olhos, está na hora de conheceres a tua surpresa.
Conduziu-me até ao quarto, obrigando-me a manter os olhos fechados e os braços esticados. Mal entrei, dei dois ou três passos e as minhas mãos abertas tocaram num par de mamas que soube instintivamente pertencerem à Evita. Pagou-as, são dela. Elas riram-se as duas, gritando em uníssono:
- Surpresa!
A Evita estava toda nua, deu uma longa passa no charro que a Fátima lhe passou, ajoelhou-se à minha frente e pôs-me mais à vontade, começando por me tirar os sapatos.
Seguiu-se uma desbunda das boas, mesmo daquelas muito boas, diria que a ocasião não merecia tanto, nunca uma passagem no exame de código deve ter sido tão efusivamente comemorada por um ser humano. No meio do álcool e dos charros tive suficiente clarividência para perceber que aquelas duas donzelas eram putas requintadas durante o horário de expediente, pelo que não me preocupei com orgasmos alheios, a felicidade delas pouco ali importava. Ainda assim, fiz por não desmerecer toda a sua atenção e carinho e dei tudo o que tinha e, lá mais para o fim, já estava a dar o que já não tinha.
Quando acabaram de me secar os tomates, estávamos tão bêbados e passados que já nem percebíamos quem beijava quem, quem apalpava o quê, onde entravam dedos e a quem pertenciam, os nossos corpos tinham dado um nó impossível de desatar. A Fátima foi quem desfez aquela embrulhada de braços, pernas, cus e mamas. Enfiou-se na casa de banho, ouvi primeiro o esguicho barulhento de uma longa mijadela e logo a seguir o atroz som de um vómito daqueles de arrancar pulmões ao corpo. Eu fiquei à rasquinha e vendo que a coisa ia demorar, abri a janela do quarto, empoleirei-me e fiz uma mijinha cheia de sentimento dali para a rua, o final perfeito para umas horinhas de fodinha a três.
Dormimos na mesma cama, apesar de haver outro quarto naquele apartamento. Acordámos ao início da tarde seguinte, a Evita estrelou uns ovos, fez café e torrou pão, uma mulher prendada e casadoira, foi pena ter dado em puta. Comíamos os três, nas calmas, a fim de combater as ressacas e as dores no corpo, quando, do nada, ela dispara:
- Quando é que me arranjas um velho rico como o da Fatinha?
- Com esse corpinho pecaminoso, só tens de estalar os dedos para formares uma fila à porta pior que as do centro de emprego, princesa."

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