quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Clítoris: lambidela 45

"Já na rua, enquanto procurava o café mais próximo, lembrei-me do nosso acordo tácito: aconteça o que acontecer, as noitadas só acabam à hora de almoço, no mcdonalds do chiado, para curar as ressacas e lamber as feridas. Sentei-me na primeira esplanada que me apareceu à frente do nariz, pedi um café cheio e uma torrada. Fui à casa de banho molhar a cara e dar um jeito ao cabelo. O meu ar de zombie melhorou consideravelmente. Bebi um segundo café, começava a sentir-me menos mal e, por volta do meio-dia, decidi que precisava de uma cerveja e de emoções forte. Bebi a imperial nas calmas, calculei mentalmente o caminho até ao chiado, cerca de vinte minutos a pé. Esperei pelo melhor momento, levantei-me e desatei a correr. Não fazia uma destas há algum tempo. Há hábitos que um tipo não se deve dar ao luxo de permitir perder. Desta vez ninguém fez o mínimo esforço para vir atrás de mim. Quando parei, arrependi-me de não ter bebido mais uma ou duas imperiais, estava novamente cheio de sede.
Cheguei cedo ao mcdonalds, aquilo estava quase vazio. Sentei-me a um canto a partir as trombas a um menu big mac, na paz do senhor. No fim sentia-me quase pronto para outra. Abençoado o americano que inventou estes venenos para ressacas. Apeteceu-me um café e, como ainda não tinha chegado ninguém, decidi que merecia melhor do que aquela zurrapa que serviam ali. Andei uns dois minutos, sentei-me na segunda esplanada do dia, pedi um café cheio, paguei-o no acto, e fiquei ali a olhar as pussycats que passavam e a sentir-me de bem com o mundo.
Voltei ao mcdonalds eram quase três da tarde, aquilo estava apinhado de putos e domingueiros, mas a minha malta ocupava a exacta mesa que eu deixara, a um canto. Estavam lá todos os seis, sem nada partido, mais uma noite que correu bem. Cravei um euro a cada um e comi outro menu big mac. Mal me sentara a comer, percebi que não ia ter qualquer hipótese: o filho do mãe do Toni tinha tirado uma tonelada de fotos de mim agarrado à baleia da Olga. Se aquele cú me tinha deixado deprimido mal acordei naquela manhã, ali naquele instante, sóbrio e quase sem vestígios de ressaca, a ver aquelas fotos que eles faziam questão de ampliar no telemóvel do Toni, fez com que eu tivesse de admitir que atingira um novo ponto baixo no meu historial criqueiro. Era a pior rata onde eu tinha estacionado o Onofre. E aqueles filhos da puta deixaram-me fazê-lo. Mais: estavam ali os seis, todos refastelados da vida a gozarem-me como se não houvesse amanhã.
Acabei de comer, aguentei um bom bocado, esperei pelo peido certo e quando o senti a fermentar nas tripas, despedi-me deles:
- Meus amores, estimo muito que se fodam todos. Vou para casa dormir e tentar esquecer que me dou com um bando de pilas moles como vocês. Para o ano há mais.
Larguei a bomba, de fininho, levantei-me e saí a passo rápido, ainda a tempo de ouvir:
- Ó badalhoco do caralho, este cheira a rata podre, deves ter comido alguma coisinha muito estragada."

Sem comentários:

Enviar um comentário