"Aconteceu numa noite de bebedeira. Era Janeiro ou talvez Fevereiro, sei que estava um frio do caralho. Eu e o Vidrinhos num bar algures, roda no ar, prego a fundo. Eu estava por tudo, queria uma pimpolha a humedecer-se por mim e se tudo corresse mal, tinha um plano b definido: ligar à Fátima, companheira de liceu, puta por acidente de percurso.
- Não olhes agora, Zé Tó, mas dois metros atrás de ti está uma cliente minha mais uma amiga.
- É boa?...
- Não, é só rica. Mas tem ar de quem fode a noite inteira. E paga, se for preciso.
- Disseste as palavras mágicas, pila mole. Tens de a ir cumprimentar, senão fica mal.
- Ganha juízo, tem quase idade para ser tua mãe.
- Melhor ainda!
Nem um minuto depois, estava o gajo a dar-lhe dois beijinhos e a apresentar-ma em seguida:
- Zé Tó, a Dra. Beatriz, a minha cliente favorita.
Aquele cabrão não perdia uma oportunidade para dar graxa, nem mesmo podre de bêbado.
- Sem o Dra., por favor. Muito prazer.
A Beatriz sem Dra. era uma quarentona gasta, um pouco mais de quarenta e cinco anos, perna curta e grossa, rabo grande, peito generoso e perfeito, que não deve ter ficado nada barato e longos cabelos negros, que lhe caíam a direito. Tinha um sinal por cima dos lábios, que ajudava ao ar de fodilhona que exalava. O tipo de mulher que eu comeria de bom grado bêbado como estava, mas que me envergonharia de morte de ser visto com durante o dia. A amiga, uma loira falsa de nome Carolina, compensava todo aquele quadro negro. Uns anos mais nova, um bom bocado mais alta, bem mais magra, um rabo de fazer inveja a muita miúda bicho de ginásio, era uma perdição vista de trás e de frente não deixava de ter os seus encantos. Uns dentes todos tortos e umas rugas marotas a fugirem-lhe dos olhos não seriam motivo suficiente para tirar a tesão a um gajo que se preze.
Embora um bom bocado mais sóbrias que nós, estavam ambas de muito bem com a vida e cheias de vontade de serem felizes. Colámos os quatro e pouco depois sentámo-nos a uma mesa recatada. Por motivos óbvios mas com bastante pena, deixei a Carolina entregue ao Vidrinhos. A conversa foi-se desenvolvendo e em poucos minutos ficou claro para mim que aquilo ia dar merda. Os olhinhos de predador que aquela milf deitava ao pobre coitado do Vidrinhos, evidenciavam que ia haver festa. Aquelas duas cheiravam a cio e nós aparecemos no sítio certo à hora certa. Deixei a coisa correr. Fui puxando a conversa para onde mais me interessava, sempre que conseguia. Ficou bastante claro que dinheiro era o nome do meio daquelas duas. Talvez não abone muito a meu favor, mas a esta distância, não me custa confessar que foi isso que desequilibrou a coisa. Quis apresentar o Onofre à Beatriz sem Dra. Quis ver o que aquilo tinha para me oferecer, além de uma bajaina recessa. Quem sabe não vinha dali uma gorjeta choruda, em forma de presentes caros ou um cheque simpático?"
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