"Inscrevi-me na escola de condução logo na semana seguinte. Era o meu segredo para a humanidade, a começar pelos meus pais e a acabar no Vidrinhos. Passei as últimas noites de 2017 a estudar o código. Decorei aquela merda toda e fiz uma montanha de testes. Rapidamente apanhei os truques àquilo e marquei o exame o mais cedo que consegui, que foi nos primeiros dias de Janeiro. Estava tão embrenhado naquela treta que acabei a facilitar nas coisas import...antes da vida. Passei outro natal sozinho com os meus velhotes, trouxe tupperwares atulhados de comida e sobremesas que deram para me alimentar quase até 2018. Na passagem de ano fui com o Vidrinhos a uma festa algures em Santos, num apartamento enorme de alguém que ele conhecia. Lembro-me que à meia-noite ainda sabia onde estava, mas a partir daí é uma nebulosa total. Vomitei tanto que fiquei com medo de terem saído peças que me fizessem falta cá dentro. Eu estava a precisar de perder uns quilitos e aquilo era um método eficiente e com resultados imediatos.
Acordei, já era noite lá fora e quase horas de jantar. Percebi que tinha cometido um erro de principiante, era 1 de Janeiro, as merdas estavam todas fechadas, aquela ressaca ia dar luta. Enfiei-me no duche e rezei para ainda ter umas latas por abrir em casa. Correu bem. Atum e ovos estrelados, com pão torrado com manteiga de entrada. Um café capaz de meter um touro a marrar dois dias seguidos e fiquei novinho em folha, zero quilómetros, pronto a estrear.
Sentei-me no sofá, abri uma mini para olear os pensamentos e delineei mentalmente os planos para aquele novo ano. Tirar a carta. Mudar de emprego. Escrever esta merda de espécie de diário. Comer o mais número de gajas possível. Comemorar os 30 anos com uma festa de arromba. Começar a ganhar juízo nos cornos. Pareceu-me francamente razoável. Tudo objectivos concretizáveis, excepto talvez o último."
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