quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Clítoris: lambidela 41

"Pelo meio de tanta festa, a rotina a meter-se-me pelos dias dentro. Aquele hipermercado do demónio a nausear-me os neurónios um bocadinho mais a cada dia que passava. As transferências da bola, que me animavam as conversas de café, agora que os campeonatos estavam parados, uma ou outra bebedeira para descomprimir o fígado e lá estava eu, totalmente contra a minha vontade, a ver-me obrigado a viver a minha vidinha merdosa. É sempre nestas alturas que uma qualquer novidade cai do céu, inesperada e sem se fazer anunciar, como se fosse merda de pombo. E a novidade que me caiu bem em cima da cabeça foi esta: o Vidrinhos acabou com a Rute. Tal e qual, foi ELE que acabou tudo com ELA. Ligou-me ainda estava a regressar a casa, como se fosse um assassino a confessar o seu crime antes de se lançar por uma ribanceira abaixo. No dia seguinte era o meu dia de folga. Fomos beber um copo. Ou dez, já não me recordo bem.
- Aquela semana em Amesterdão fez com que percebesse que a Rute estava a soar cada vez mais a obrigação, meu. É uma crica maravilha, mas isso não chega para eu me foder todo num namoro sério, com fedelhos a borrar fralda atrás de fralda já ali ao virar da esquina.
- Foda-se, Vidrinhos, és o meu guia espiritual. Vou ter de acabar com a Marlene. É isso ou enlouquecer devagarinho.
- A cona estupidifica, Zé Tó. É preciso tomates para um gajo lhe fazer frente. Deixar uma coninha húmida e saltitona é a mesma merda que deixar a droga.
- Olha lá, e se fossemos às putas?
- Dito assim com essa eloquência, seria preciso ter um coração de pedra para recusar.
Deixei o gajo fazer a pesquisa na internet. Passou-me o telemóvel para as mãos como quem passa o menu num restaurante. Não faltava por onde escolher. Ele queria um grande par de mamas e eu disse que comia o mesmo. Deixei-o marcar o número, era diversão garantida. Uma voz com sotaque brasileiro atendeu ao terceiro toque.
- Boa noite, minha senhora. Li o seu anúncio, que me pareceu bastante sério e honesto. Gostaria no entanto de lhe perguntar se tem disponibilidade para eu lhe ir ao cuzinho?
Do outro lado responderam qualquer coisa, enquanto ele me piscava o olho, divertido.
- Só oral e vaginal? Entendido. Para puta, a menina tem um discurso muito idêntico ao da minha esposa.
Desligou-lhe o telemóvel na cara. Menos uma puta de mamas grandes para nos fazer felizes. Fez nova chamada. Desta vez foi uma portuguesa que atendeu.
- Olá, princesa. Tenho uma urgência. Um amigo meu ainda é virgem mas está bêbado o suficiente para querer deixar de o ser na próxima meia-hora. Posso passar por aí e apresentar-to?
Nova piscadela de olho, enquanto ouvia a resposta do outro lado. A diversão favorita do Vidrinhos quando está com os copos é ligar para as putas. A maior parte das vezes é só para chatear.
- E quanto é que vai custar ao rapaz ficar a saber o que tem andado a perder?
Com a boca, soletrou-me devagar uns mudos trinta euros. Fiz-lhe sinal que estava bom.
- E prometes que lhe ensinas tudo o que sabes? Linda menina. Por acaso não passas recibo, para o rapaz meter em despesas de educação no IRS?
Acabámos por não ir a lado nenhum. Bebemos mais umas tantas imperiais e quando o gajo me foi levar a casa, lembrei-me de ligar à Fátima. Já era tarde, mas ela atendeu.
- Princesa, estou deprimido que nem um cão e…
- Passa aqui, Zé Tó, já somos dois. As depressões curam-se melhor quando se juntam uma à outra.
O Vidrinhos deixou-me à porta do prédio dela. Fiz um grande charro, ficámos a beber e a fumar deitados um para cada lado no sofá dela até estarmos num estado que já nem sabíamos bem onde ficava o quarto. Fodemos mais para não parecer mal do que por verdadeira tesão."

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