"Que raio foi que aconteceu aos meus amigos de infância? Homens a sério é na margem sul, dizíamos nós, peito feito, armados em cagões, sempre que a oportunidade se manifestava. Inseparáveis, durante anos, em bando para todo o lado, nas férias da escola, fins-de-semana, aniversários, o caralho a sete.
Restam o Diogo e o André. Os verdadeiros dos verdadeiros. Os outros, a puta de vida lá fez das suas, foi cada um para seu lado, mas quem diria que um ...dia me ia dar para a nostalgia? Sentado sozinho na esplanada daquele café merdoso, empanturrado que nem um leão, a ter saudades dos cromos dos meus amigos de infância.
O certo é que ali estava eu, um Sábado por volta das duas e meia da tarde, a recordar histórias com mais de dez anos. “Homens a sério é na margem sul”.
O Benfica jogava em casa e ia-me encontrar com a malta. O André foi o primeiro a chegar, camisola e cachecol, apesar do calor. Um verdadeiro do caralho.
- Então Zé Tó, ainda estás sóbrio?
- A culpa é tua, que nunca mais aparecias para começar a pagar rodadas.
Enquanto o gajo me ia desfiando as novidades criqueiras, e eu mais uma vez não conseguia acreditar que aquele minorca com barriguinha de cerveja enganasse tanta bajaina, apareceu o Diogo.
- Chegou o homem dos sete instrumentos, oito se tocar ao bicho contar.
- Se contasse, eras um músico do caralho, Zé Tó.
Estivemos sentados à conversa a recordar velhos tempos durante seis imperiais seguidas. Quando demos por ela, estava na hora de fazer o habitual sorteio, a fim de decidir quem conduzia o carro do André. Não me calhou a mim, o que significava que muito provavelmente íamos viver para contar aquela noite.
Rumámos ao estádio, vimos o jogo, o glorioso ganhou 3-1 ao Braga, com lances polémicos à mistura. Fartei-me de sofrer e de largar peidos. No fim daquele jogo de merda, estávamos novamente sóbrios que nem uns meninos de coro. Fomos ter com o resto da malta a uma tasca ranhosa, já perto do cais do Sodré, para não mexer mais no carro o resto da noite, que se previa longa e perigosa. Já lá estavam todos quando entrámos. Tinham visto o jogo num café lá ao lado, levavam-nos um considerável avanço alcoólico.
Tudo amigos de infância. Era Agosto e estavam cá de férias. Ao longo do tempo, com muita diplomacia, lá conseguimos implementar uma anual noite de copos. É uma espécie de feriado, mas só para os amigos de infância. Mal nos vemos, começa um interminável desfile de abraços e insultos carinhosos."
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