quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Clítoris: lambidela 19

"Um fim de tarde, dois dias depois de eu ter sido informado que o meu contrato não seria renovado dali a duas semanas, entra na loja uma trintona, com todo o ar de lunática. Dei-lhe uns minutos a deambular pelos escaparates, antes de me dirigir a ela, no meu “tom profissional algo simpático demais”:
- Boa tarde. Se precisar de ajuda, estou ao seu dispor.
Ela olhou-me fixamente, um olhar esgazeado, que me assustou no primeiro instante. Replicou, quase de imediato:
- Oh, mas que simpático. Acabou de ler o meu pensamento, estou mesmo a necessitar de ser ajudada.
Pronto – pensei para mim – cá está ela! A fodinha com uma cliente por que tanto ansiei. Não tive a mínima hesitação. Ia ser aquela, eu só precisava de ter paciência, não ir com muita sede ao pote. Mirei-a bem, enquanto ela me descrevia aquilo que andava à procura, e que não era nada de concreto, apenas umas ideias chanfradas sobre assuntos demasiados isotéricos para a minha paciência. Estatura média, roliça, rosto vulgar, mas uns olhos como que maravilhados e um sorriso fácil e pateta, que denunciavam umas cartas em falta no baralho. Tinha um forte sotaque do norte e tudo nos seus gestos denunciava uma gata no cio. Dei-lhe trela, fiz-lhe perguntas, fingi interessar-me por aqueles assuntos tão a leste do meu paraíso, acompanhei-a pelas estantes, pesquisei livros no computador, aquilo durou uns bons quinze minutos. Eu podia abusar, ela já tinha três livros debaixo do braço, a Sílvia não me ia conseguir moer os cornos. Então, senti que a conversa chegava a um impasse, olhei para o relógio, de forma pronunciada e arrisquei tudo:
- Está a ser muito interessante falar consigo. Saio daqui a pouco mais de meia hora, não me leve a mal, mas se tiver tempo, convido-a para um café.
Ela tinha tempo. Tomámos um café ali mesmo no shopping. Fiquei a saber que se chamava Tatiana, tinha trinta e sete anos, divorciada e sem filhos. Aquilo era o concretizar de um sonho, nunca tinha tido sexo com uma mulher tão velha, poucos anos lhe faltavam para ter o dobro da minha idade. A seguir bebemos um copo, sugestão minha, num café sossegado, ali perto. Fomos no jipe dela, uma coisa para custar uma pipa de massa. Dois martinis depois, estávamos aos beijos como adolescentes apaixonados. Ela não tinha nenhum problema em estar ali, numa mesa discreta de um café quase vazio, agarrada a um tipo que podia ser seu filho. Eu, pelo meu lado, sentia-me o maior, até porque conhecia o empregado do bar e sabia que ele ia espalhar aos quatro ventos mais esta minha proeza. Fiquei com uma tesão medonha e fiz questão que ela percebesse. Sugeriu que fossemos até casa dela.
Morava em campo de ourique. Conduziu até lá como a tresloucada que eu pressentira que era. Eu estava com uma fome de lobo, mas a tesão teve sempre prioridade sobre a barriga. Perdido por um, perdido por mil, mal entrei naquele apartamento, servi-me logo de um whisky velho, assim que ela perguntou se queria tomar alguma coisa. Só depois é que reparei na decoração de extremo bom gosto e com preços a condizer. Aquela bajaina no cio cheirava a dinheiro e tive a sensatez de não me embebedar muito. Fiz por ser romântico, despi-a devagar e dediquei-me de corpo e alma àquele corpo que, sem roupas a atrapalhar, se me revelou uma boa surpresa. Tinha uma pintelheira à antiga, farfalhuda, e mergulhei lá com toda a paixão que encontrei na alma. Resisti um pouco quando me puxou para si, para a fazer sofrer um bocadinho, por fim, trepei para cima dela e penetrei-a devagar. À medida que íamos fodendo e a coisa ia ficando mais quente, ela ficava com um ar cada vez mais sensível, até que, juro por deus, começou a chorar. Era um choro silencioso, apenas umas lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto e uns leves suspiros sofridos. Eu, feito estúpido, perguntei:
- Estou-te a magoar?
- Não pares, és maravilhoso!
E foi isto. Ela veio-se por entre as lágrimas e eu fiquei com o pau a meia haste com aquela merda. Ela tirou-mo para fora, deitou fora o preservativo e começou a chupá-lo como uma senhora fina, cheia de atenções para com o mestre Onofre. Passado um bom bocado, estava quase a haver fogo-de-artifício, parou, serviu-me novo whisky e preparou outro para ela.
- Tchim, tchim, Zé Tó! Ama-me por trás, mas primeiro deixa-me beber isto de penalty, bêbada venho-me mais facilmente.
Eu fiquei vidrado naquilo: ama-me por trás! Aquela tresloucada cheia de dinheiro era, na verdade, uma enorme poetisa.
Esvaziou o copo de um trago, levou-me pela mão até ao sofá da sala, virou-me o rabo e sussurrou:
- Diverte-te, garanhão!
Não me fiz rogado, enfiei-lhe o Onofre e fiquei ali um bom bocado em ritmo de passeio pelo bosque, enquanto segurava o meu copo numa mão e ia bebericando devagar. Um bom whisky velho é para ser apreciado. Quando senti que os suspiros sofridos estavam de regresso, pousei o copo e carreguei no acelerador. Tive um orgasmo fantástico, deixei-me cair em cima dela, virei-lhe o rosto e limpei-lhe as lágrimas com beijos meigos. Apeteceu-me dizer-lhe “agora paga-me, sua puta”; mas em vez disso saiu-me:
- Estou esfomeado, deste cabo de mim, princesa."

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