"Odeio hospitais, mas os meus familiares fazem de propósito para me chatear os cornos e insistem em lá ir parar. Ainda bem que a família é pequena. Só me restam duas tias, ambas da parte da minha mãe, que bajaina nenhuma vomita outro cromo como o meu pai. A mais velha delas, a tia Rosa, parece que decidiu murchar com um belo de um AVC. Pelos vistos vai-se safar, mais baba menos baba.
O meu trauma com hospitais vem da adolescência, quando tive uma experiência merdosa. De um dia para o outro, não parava de me queixar com dores, parecia apendicite ou outra merdicite do género. Dei entrada nas urgências a pensar que ia morrer. Pareceu-me estar no sítio certo para isso, para onde quer que olhasse só via velhos muito velhos deitados em macas, com tubos enfiados em tudo o que era orifício, homens com fracturas expostas, crianças todas esfaceladas, era um magnífico espectáculo de horrores. Fiquei uma semana internado, enquanto me faziam todo o tipo de testes, a ver se descobriam que raio é que eu tinha. A única vantagem daquilo é que foi durante o período de aulas e uma semana sem pôr os pés no liceu é sempre coisa de fazer maravilhas à cabeça de um gajo. Eu tinha 14 anos na altura e masturbava-me duas a três vezes ao dia. De repente enfiam-me numa cama de hospital, num quarto com mais duas camas, ocupadas por zombies cheios de tubos. Não se faz uma coisa dessas a uma semi-criança.
Quando dei por mim, enfermeiras entravam e saíam do quarto. O rácio das boas era bastante aceitável, em especial para um puto com uma atroz vontade de engravidar o planeta inteiro. Viam um adolescente com um olhar tão sofrido para ali deitado numa cama e derretiam-se em simpatias, algumas até me faziam umas festinhas na cara. Eu ficava logo cheio de febre no baixo-ventre. Mal a oportunidade aparecia, corria para a casa de banho e em menos de dois minutos tinha feito um filme porno completo na minha cabeça, num orgasmo mudo e triste.
Fiz uns exames porreiros, que metem máquinas estranhas a emitir sons e um gel que nos passam na barriga. Também tirei sangue. Um monte dele. Apeteceu-me perguntar à enfermeira se ela não me queria também tirar um bocado de esperma, sempre poderia dar para complementar melhor as análises que me iam fazer. Andei uns dias nisto. Às tantas lembrei-me que o pénis é irrigado por não sei quantos vasos sanguíneos e se temos tesão é porque o sangue deve estar a cumprir o seu papel (assumindo que as gajas estão a cumprir o delas, claro). As tolas das enfermeiras, para além de tirar o sangue, mediam-me a tensão e tiravam-me a febre. Achava eu que era da mais elementar justiça, depois de me tirarem tanto sangue, tantos dias seguidos, que passassem a fazer umas festinhas no Onofre, a ver se estava tudo bem. Encarreguei-me sempre eu desse teste, antes de tomar banho, mas porra, elas é que eram as enfermeiras, deviam ter sido elas a tratar disso. Para deixar as coisas a meio, tirava eu também o sangue. Hesitei bastante em expor-lhes os meus argumentos, mas isto de ficar de mal com uma enfermeira não pode trazer nada de bom a um paciente, pelo que optei por não arriscar. Mesmo com todos estes cuidados, um dia, para grande azar meu, uma delas pisou-me o braço todo. E claro, tinha de ser o direito. Fartou-se de me pedir desculpa, aquilo ficou um bocado feio e doía-me imenso. Andei dois dias sem conseguir dar grande uso ao braço. Foram dois dias de punhetas remediadas. Todos sabemos que não é, nem de perto nem de longe, a mesma coisa. Para cúmulo, volta e meia passava um padre pelo quarto, suponho que para proporcionar algum conforto espiritual aos doentes. A primeira vez, apanhou-me a ler o jornal de desporto e sem paciência para conversa da treta. Disse-lhe que era ateu. Ele continuou a despejar frases repletas de filosofia barata, pelo que tive de lhe dizer que para conforto espiritual, uma puta de mamas grandes produziria melhor efeito sobre um pobre pecador punheteiro como eu. O coitado do padre aguentou um minuto e pôs-se a andar. Fiquei na dúvida sobre a causa. Às tantas eu já era muito velho para ele."
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