quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Clítoris: lambidela 36

"A puta da vida, como tantas vezes acontece, entrou em piloto automático. Os meus dias no hipermercado eram rotineiros e sem surpresas. Aqui e ali cruzava-me com a Adele, trocávamos dois beijinhos e umas poucas frases, entre sorrisos rasgados, de quem guarda memórias gratas. Percebi que eu era isso mesmo para ela: uma memória grata. A única coisa que me desiludia naquilo era ela não ter passado o testemunho para as suas duas amigas. Eu quase não as via e, nas raras ocasiões em que as apanhei juntas, fiquei com a clara impressão que a Adele me estava a despachar. Não esmoreci. Por vezes há que saber ser paciente, um dia aquelas duas ainda me viriam parar à sopa. Mais triste ainda foi a filha da Adele nunca ter passado de fotos de telemóvel para o concreto de pernas, rabo e mamas. Mesmo muito triste. Ainda não fora daquela que o Onofre degustara mãe e filha.
Estranhamente, quem ficou muito minha amiga foi a cara de cavalo da Filó, em especial no facebook. Farta-se de enfiar likes e comentários nas minhas publicações. Volta e meia passamos uns bocados agradáveis a bater um papo em privado. Talvez eu tenha sido demasiado severo comigo próprio e ela seja outra com ternas recordações do Onofre. Das duas ou três vezes em que estivemos juntos, com tempo para um café rápido, ela não deu grandes mostras de querer repetir a dose. Vá-se lá entender as bajainas. No último desses cafés, engoli o meu orgulho de macho latino e perguntei-lhe pela Xana. Estava muito feliz, de namoro sério com um cromo qualquer, chefe de vendas já não sei onde. A Filó disse que aquilo pegou forte e que só descansam quando enfiarem um par de anilhas nos dedinhos. Boa sorte para ti Xana, mais às tuas mamas de sonho.
Passei a ir ao ginásio, duas a três vezes por semana, muito por influência da Marlene. Eu inscrevera-me no mais barato que encontrara, mas o que me interessava acima de tudo era não ser o mesmo que ela frequentava. Na minha idealizada e romântica visão, um ginásio era uma espécie de recrutamento vaginário. A coisa deixou muito a desejar, mas não sou de desistir fácil e continuei a ir para lá suar, em especial dos olhinhos.
Com a Marlene as coisas foram ficando cada vez mais aborrecidas, tudo me deixava um travo a obrigação, com a honrosa excepção daquelas fodinhas tão aplicadas que ela dava. Era capaz de jurar que, quando no fim ela se enfiava na casa de banho, nunca se esquecia de fazer os seus alongamentos. Acabei por ir almoçar a casa dos pais dela, um belo Domingo em que choveu que fodeu. A mãe da Marlene ainda conseguia cozinhar melhor que a filha. Saí de lá bem comido, quase tão bem bebido e com o cérebro bem fodido. Senti que passara um apertado interrogatório policial. Pelo menos não tinha sido constituído arguido. A Marlene tinha dois irmãos mais velhos, dois armários de meter respeito. Aquilo tinha tudo para correr mal quando chegasse a hora de correr mal, o que eu previa para antes do verão. Ajudava imenso ter marcado umas férias em Amesterdão, só com o Vidrinhos, o Diogo e o André para algures em Junho, onde iria aproveitar para comemorar os meus 29 anos."

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