" A vez seguinte que a Marlene me apareceu à frente, percebi que tinha um problema sério por resolver. Amorzinho lindo para aqui e para acolá, mal entrava no meu barraco, agia como se aquilo fosse tudo dela. Era a rainha da cozinha, preparava uns pratos fantásticos, mas como se isso já não fosse para além de perfeito, metia-me a roupa a lavar, passava algumas peças a ferro, fodia-me a cabeça por ser tão desarrumado e, a seguir, pedia-me o Onofre emprestado e fazia um treininho de pila que, se era uma coisa maravilhosa de se ver, então de participar, era o céu, senhoras e senhores, meninas e meninos! Aquele metro e meio de bajaina entrou pela minha vida dentro sem pedir licença. Entendi finalmente o porquê de darem nomes femininos aos furacões. A verdade é que eu não tinha grandes motivos para me queixar, mas a questão é que era ainda mais verdade que eu não pedira nada daquilo. A Marlene começara por ser uma bem-vinda fodinha de noite de passagem de ano e, quando dei por mim, tinha sido promovido à categoria de seu namorado oficial. Era um grande equívoco, estava bom de ver, a questão era dar com a melhor altura de o desfazer.
Entretanto, como se fosse um anjo caído do céu, a Cláudia apareceu-me nos dias. Eram os fins de Março, a primavera anunciou-se no calendário, eu sentia nos tomates aquela leveza feita da promessa de dias soalheiros, flores que se abrem para o sol, pássaros que chilreiam alegres e pussycats com roupas leves e decotes generosos. Em suma, eu sentia o pulsar da vida a correr-me veias acima, em especial naquelas que irrigam o Onofre. Ainda mais resumido: andava com uma tesão infindável. Dei por mim e tinha uma meia leca morena de 27 anos, que me punha a casa num brinco e o Onofre num estado lastimoso. Em troca exigia-me um estatuto de exclusividade e noites de felicidade plena estampada no rosto partilhada com o seu grupinho de amigos. Para desenjoar deste quadro opressivo, aparecera-me nos lençóis a minha vizinha milf, um anjo ruivo de 43 anos, pele tão branca e voz tão rouca, que somente me pedia para ser fodida com sensibilidade. Deus sabe que eu tinha tesão de sobra para as duas, que fiz por merecê-las e que não havia nada que estivesse ao meu alcance fazer para evitar andar com ambas ao mesmo tempo.
Tecnicamente, tinha acabado de ser infiel à Marlene, mas as coisas não eram assim tão simples. Se por um lado ela achou por bem considerar que éramos namorados e eu não me opus a essa conclusão precipitada, por outro lado, nunca em tempo algum me pediu para lhe ser fiel. Estava portanto perante um caso omisso. A verdade é que eu jamais sentira algum tipo de sentimento pela Marlene que, já não digo que fosse da família do amor, mas que lhe fosse exclusivo. O que ela me provocava em termos afectivos e químicos não era em nada diferente do que o poderiam fazer dezenas de milhões de bajainas neste planeta, se lhes fosse concedida a mesma oportunidade, isto numa estimativa conservadora. A conclusão que tirei não podia ser mais simples: lá porque eu era o suposto namorado da Marlene, não senti que lhe devesse nada, muito menos uma estúpida confissão do que acontecera entre mim e a Cláudia e que, no que me dizia respeito, queria que voltasse a acontecer o quanto antes. Eu sabia que era uma mera questão de tempo até acabar com aquela insensatez de namorar com a Marlene. Mas se o podia fazer dali a umas quantas fodas valentes, não via motivos nenhum para antecipar a coisa."
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