quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Clítoris: lambidela 32

"Eu sabia que era uma questão de tempo até a minha sorte criqueira mudar. Não me preocupei muito com o assunto. Aconteceu como sempre acontece: quando menos se espera. Era um Sábado de Março, estava um frio do caraças. Eu vinha do supermercado, saco das compras na mão. Pão, latas de atum, cerveja e mais umas merdices. Tudo bens de primeira necessidade. Procurava nos bolsos a chave para entrar no prédio, quando reparo na minha vizinha milf, cá fora, cara de desespero. Atiro um jovial bom dia, entre o distraído e o surpreso.
- Bom dia – responde ela – Desculpe, fazia-me um favor?
Não ia ser favor nenhum, pensei eu com os meus botões.
- Diga, diga.
Ia levar o lixo à rua e tinha fechado a porta de casa com as chaves lá dentro. Cagada típica de gaja. Não tinha nada com ela, nem telemóvel, nem chaves do carro, nem dinheiro, nada de nada. Perguntou-me se lhe emprestava o meu telemóvel para ela telefonar à mãe. Como é que eu podia dizer que não, para mais a sentir o Onofre a ficar cheio de cócegas?
Fez o telefonema, explicou tudo à mãe, em tom nervoso. A seguir devolveu-me o telemóvel, sorriso de gratidão no rosto.
- Muito obrigada, foi muito gentil. A minha mãe tem uma cópia das chaves e vem já para aqui. Não sei como fiz isto. Que chatice.
- Acontece. O que importa é que está resolvido – disse-lhe eu, enquanto lhe devolvia o sorriso.
E eis que, num repente, não sei como me veio a inspiração, disparo:
- A sua mãe está perto ou ainda vai demorar?
Saiu-me aquilo assim, sem mais nem menos, num tom de voz preocupado, de bom cristão que nunca fui.
- Uma meia-hora, talvez, mas não se preocupe, eu espero aqui por ela.
Meia hora! Senti o Onofre a pedir-me que a convidasse a subir e a beber um chá enquanto eu lhe tirava a roupinha, mas o que me saiu de improviso foi:
- Mas não vai ficar aqui na rua, ainda é um bom bocado. Porque não espera ali no Doçuras? Eu empresto-lhe uma moeda.
Trocámos olhares. Numa fracção de segundo, senti que tinha havido um entendimento mútuo. Ela percebera que eu estava apenas a ser simpático, mas que não me importaria nada de lhe apresentar o Onofre. Aquilo era uma forma de manter a opção em aberto. A decisão seria sempre dela.
- Oh, já foi tão simpático, não posso aceitar, obrigada.
O tom com que ela proferiu aquelas palavras fez com que eu não tivesse dúvidas. Levei a mão ao bolso do casaco, puxei da carteira, pesquei lá dentro uma moeda de 2 euros, que lhe estendi:
- Não é nada. Eu moro no 5º esquerdo, depois quando se lembrar mete-me uma moeda na caixa do correio.
A coisa ficou assim, mais lai lai lai menos lai lai lai. É claro que ambos sabíamos que ela podia muito bem ir à Doçuras sem a minha moeda, consumir o que entendesse e pagar quando a mãe chegasse. Despedimo-nos e cada um foi à sua vidinha.
Mal entrei em casa, larguei o saco de compras no corredor, enfiei-me na casa de banho e pus-me a esfregar o pobre do Onofre. Foi uma punheta tão maravilhosa que no fim abri uma garrafa de um bom tinto, só para fazer um brinde."

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