Fodemos o resto do dia, como devotos a cumprir uma promessa. Empenho e devoção foi coisa que não faltou ali em cima daquela cama. Pelo meio, a Marlene foi-me desfiando a sua existência de novela das sete, feita de histórias de amor invariavelmente com finais tristes. Quando me vim pela terceira vez, contemplei para mim mesmo, enquanto refrescava o Onofre com água fria do bidé, a possibilidade de me tornar noutra dessas histórias. Porque não? Era evidente para mim que a Marlene o estava a pedir, com aquela vozinha esganiçada que me dava cabo dos nervos.
Por meu lado, inventei-lhe uma história que fui improvisando às apalpadelas de uma ex-namorada que me tinha trocado por outro, uma coisa algo recente e da qual ainda não me recompusera totalmente. Na minha cabeça o que lhe quis dizer foi “quero continuar a foder contigo, mas sem compromissos”, aquilo saiu ao contrário e percebi que ela encarou a minha lamechice como um velado pedido de colo e carinho.
Sofri o meu bocado para ela me desamparar a loja e se pôr a andar. No último instante, tive um relapso e anunciei que a acompanhava a casa. Bem me fodi, que ela morava na Amadora, longe como cornos.
Passei o resto da noite a trocar mensagens xaroposas com ela no Messenger. Aquilo já me estava a chatear, às tantas pus-me a ver um filme porno mas cansei-me rápido, tinha os tomates na reserva, tentei despedir-me dela e pôr fim àquilo. Consegui, ao fim de mais uma infinidade de mensagens, com um café combinado para dali a dois dias.
Deitei-me pouco depois da meia-noite, com a sensação que tinha começado a namorar com a Marlene e sem ponta de sono."
Sem comentários:
Enviar um comentário