quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Clítoris: lambidela 24

"Vinguei-me na passagem de ano. Uma coisa só para duros. A ideia fora do Vidrinhos: uma festarola das rijas em casa dele. O gajo convidou o trio maravilha e mais dois tansos, um que trabalha com ele e outro que é amigo de infância, ou do liceu, ou da catequese, ou de uma merda qualquer. Ambos do Sporting, ainda há tanto disso por aí, vá-se lá conseguir perceber. Para dar um ar decente à coisa, fartou-se de convidar pussycats e não é que apareceram oito? Havia mais bajaina que pila, aquele cromo não para de se surpreender. A verdade é que a Rute foi a grande responsável por aquilo, trouxe consigo uma chusma de amigas, nenhuma nem remotamente tão louca como ela, mas qualquer uma delas, um bacalhau bem interessante e fodestível. A esse grupinho juntou-se outro, três colegas do trabalho do gajo. Mal as conheci, fiz uma nota mental para o ir visitar ao emprego, passou a ser uma das minhas resoluções de ano novo.
O Vidrinhos, sendo o freak da organização que é, planeou aquilo ao pormenor: aos homens coube abastecer-lhe o barraco de álcool suficiente para embebedar uma criação de perus ou uma turma de finalistas de liceu, as pussycats levaram uma tonelada e meia de doces, salgados, entradas e cenas estranhas, devem ter pensado que as íamos raptar por uns tempos. A ideia era aparecermos por volta das quatro da tarde, para ir aquecendo os motores com toda a calma. Foi o que eu fiz, cheguei cinco minutos ainda dentro das quatro horas, mas ficou logo claro que já levava várias voltas etílicas de avanço sobre qualquer outro ser humano presente.
A Rute apresentou-me as amigas e o Vidrinhos fez o mesmo em relação às suas colegas de trabalho. Pouco faltou para ter ficado logo sóbrio. Aquilo não podia estar a acontecer. Tinha sete bacalhaus a sorrir para mim, a Rute era carta fora do baralho mas, por seu lado, também eliminava um concorrente. Não podia falhar. Sentia-se no ar um pensamento colectivo de “isto vai dar foda”, era uma questão de álcool e algum jeitinho.
Servi-me de um gin, já estava na hora do lanche e além disso, eu precisava de aclarar ideias e perceber qual era o bife com mais probabilidade de me vir parar ao prato. Não teria de me armar em esquisito, nenhuma delas sendo deslumbrante, todas aquelas periquitas tinham o que era preciso para me fazer feliz, de olhos muito bem fechados.
Acabei por não ter de me preocupar. O apartamento do Vidrinhos, sendo o dobro do meu, não deixava de ser pequeno para catorze almas do senhor deambularem à sua vontade. A sala do gajo fazia lembrar a pista dos carrinhos de choque. A malta tinha mesmo que conviver e estava bom de ver que o que todos ali mais queriam era um jovial e alegre convívio. Como quem não quer a coisa, uma das colegas dele foi aproximando a asa aqui do menino. “Já foste”, pensei cá para mim. Isto é como na escola primária, a primeira a meter a mão no ar, tem direito a ser a escolhida.
A conversa começou meio aos empurrões, ambos a apalpar terreno, a fim de descobrir um interesse comum, para além do óbvio, que era arrancar-lhe a cuequinha com os dentes. Chamava-se Marlene e afinal era amiga de uma das colegas do Vidrinhos. Além de professora de zumba num ginásio, trabalhava numa mega loja de desporto, o que eu também já fiz, há muitos anos. Deu logo conversa para uns bons minutos, intercalada por olhares gulosos. Era um metro e meio de bajaina, pele morena, barriga lisa, perna curta, mamas pequenas mas empinadas e umas ancas e um rabo um pouco cheios demais, para quem fazia tanto desporto. Um sorriso maroto, uns olhos esverdeados, atrevidos e um cabelo que lhe caía liso até meio das costas, emprestavam-lhe um ar de quem perdia muitas noites de sono a queimar calorias. Quis muito experimentar uma volta naquele carrossel e dei o meu melhor patuá para impressionar a fera. Havia, porém, um grande senão neste quadro quase edílico: ela tinha uma voz aguda e irritante, uns decibéis mais alto que o recomendado e, para completar a desgraça, um ligeiro sotaque de aldeia do interior. Fiz por aguentar e dei graças por todo o álcool que me navegava no sangue.
Ainda estávamos em 2016 quando nos começámos a enrolar. Durante um bom bocado não passámos daquilo, para e arranca, para e arranca, um amasso mais arrojado aqui e ali, coisa para deixar o pobre do Onofre à beira de um ataque de nervos. Desenlaçávamo-nos, como se no fim de uma dança, ia cada um à sua vida, dar um dedo de conversa aqui e ali, petiscar qualquer coisa, voltar a encher o copo e dar uma passa num qualquer ocasional charro que andasse a passar nas redondezas. Notei que a Marlene recuperava terreno etílico para mim com uma rapidez surpreendente.
Deu a meia-noite, fizemos a tradicional contagem, dez, nove, oito e o caralho a sete, bem-vindo 2017, brindámos muito a isso, desejámos um feliz ano novo com voz enrolada, alguém disse umas piadas, projectaram-se sonhos em voz alta, planos, desejos e quimeras deitados pela varanda, até que não havia mais nada que fazer por ali, a não ser dividir os pares que se foram formando pelas várias divisões do barraco.
Fomos todos, deus saberá como, até à praça do comércio. Chegámos lá e estava um gajo cheio de tatuagens em cima do palco a cantar “se o tempo é dinheiro” para um mar de gente com os braços no ar a abanar. Aquela merda foi do mais próximo de um filme de terror que experimentei na vida. Abracei a Marlene por trás, encostei-lhe o Onofre ao rego, a bater continência naquelas nádegas grandes, mordisquei-lhe o pescoço ao de leve e sussurrei-lhe ao ouvido:
- E se fossemos para minha casa, ouvir uma música diferente?
- Foi a melhor ideia que tiveste em 2017, Zé Tó!
Andámos um bom bocado a pé, até nos conseguirmos enfiar num táxi. Estávamos bêbados e ambos cheios de tesão. O taxista não deve ter ficado com menos, quando nos deixou à porta do meu prédio, tal a qualidade dos amassos no banco traseiro.
Aquela tola parou o elevador a meio e cantou-me logo ali uma canção de embalar, só para dar sentimento, mas parou antes do Onofre chegar ao refrão. Entrámos no meu apartamento, direitos ao quarto, nem trinta segundos depois estava a admirar-lhe a tatuagem de um anjo sorridente bem por cima de uma pintelheira acabadinha de voltar do barbeiro. Mergulhei fundo de boca e dedo, abrindo as hostilidades para uma hora e um quarto de um treininho fodestório com muita intensidade. A Marlene era competente e aplicada, vinha-se q.b. e, ao contrário do que eu temia, não esganiçava aquela vozinha, limitava-se a revirar os olhinhos, a arfar muito e a um gemido sofredor que prolongava até me abraçar com força. Começámos a foder bêbados que nem cães, não acabámos muito melhor, eu fui à cozinha beber o tradicional litro de água, ela foi à retrete vomitar um rim inteiro, aterrámos na cama, um para cada lado e caímos num sono comatoso trinta segundos depois."

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